quarta-feira, 24 de outubro de 2018

“Tendo água, dá de tudo na terra”

Rosemeire Silva caminha orgulhosa mostrando o seu quintal produtivo. “Coentro, alface, couve, cebolinha, hortelã, manjericão. A gente vive disso aqui. Tudo que a gente tem vêm das hortaliças”, conta a agricultora. O quintal produtivo também tem mamão, laranja, uva, coco, banana e umbu-cajá. 

A terra, onde mora com seu companheiro, Edilson Rocha, fica na comunidade Nossa Senhora Aparecida, no município de Itaberaba (BA). “Meu pai trabalhou 25 anos em fazenda e deram esse terreno como pagamento dos tempos de serviço. Depois ele trabalhou com curtume e hoje trabalhamos juntos com hortaliças”, explica Rosemeire. “Somos três famílias produzindo: eu com minha esposa, o pai dela e um primo”, diz Edilson.
Casados há 10 anos, o casal iniciou o plantio de hortaliças em 2010, um ano após o início da construção da casa. Em 2015, acessaram o Bolsa Família e em seguida foram contemplados com uma cisterna de consumo. Hoje, acompanham entusiasmados a construção da cisterna-calçadão, que chega para a família através do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2).


Rosemeire e Edilson partilham o trabalho com a terra

Para Edilson, a chegada da segunda água vai fortalecer a produção. “ Hoje a gente planta com a água da Embasa, que vêm lá do Rio Paraguaçu, ela vai pro tanque de barro. A conta vem um pouco salgada, só não vêm mais porque a água é bruta, se fosse tratada ninguém conseguiria pagar. A mais barata que vêm é 200, 250 e no verão chega até a 300, 400, 500”, conta  Edilson, explicando que, mesmo o valor sendo divido entre as famílias, os custos são elevados para manter a plantação.

“Quando chega o verão a gente tem que correr para a beira do rio, arrendar terra. São 22 km  pra ir e voltar todos os dias para molhar a horta. Nessa época, a Embasa regula a água aqui. Às vezes ficam só dois palmos de água e não dá pra regar a horta mais de uma vez. Agora a gente vai ter um reservatório, vai ser bem melhor”, completa Rosemeire.

A construção da cisterna veio acompanhada por formações e intercâmbios. “Eu aprendi muitas coisas. Hoje sei sobre a adubação e sobre os produtos pra poder matar as pragas da horta. Tudo orgânico, sem veneno”, explica a agricultora.

Além de fortalecer e ampliar a produção, o projeto vai viabilizar a criação de aves. Um desejo antigo da família. “Aqui tem um galinho, mas não temos estrutura pra criar galinhas e não dá pra ficar solto por causa da horta. A gente quer investir pra fazer um poleiro”, conta Rosemeire, explicando que além de contribuir com a soberania alimentar da família, o excedente dos ovos e carne poderão ser comercializados.

“Tendo água, dá de tudo na terra”, celebra Rosemeire. Hoje as hortaliças são comercializadas na feira e em mercados da cidade e se destacam pela qualidade. Rosemeire e Edilson são um retrato de como, com persistência e luta, é possível conviver com os desafios do semiárido.