Tribunal Popular do Judiciário reúne movimentos sociais populares para debater o sistema judiciário da Bahia
A
sociedade civil organizada, por meio de instituições e movimentos sociais
populares de diversas regiões baianas, reuniu-se neste dia 31 de julho, em
Salvador para a realização do Tribunal Popular do Judiciário Estadual da Bahia,
uma iniciativa animada pela Articulação em Políticas Públicas (APP/BA), com o
intuito de discutir, problematizar e denunciar coletivamente a atuação do poder
judiciário baiano na negação e violação de Direitos Humanos.
Foram mais
de 300 participantes, entre representantes de organizações, lideranças de povos
tradicionais indígenas, quilombolas, fundo de pasto, entre outros, de mais de
40 municípios que participaram de etapas regionais, como nas regiões de
Juazeiro/norte baiano, Ruy Barbosa, Região Metropolitana de Salvador e
sul/extremo sul da Bahia.
Durante
o Tribunal Popular, foram apresentados casos emblemáticos de violação e negação
de direitos com a participação do sistema judiciário, a exemplo do extermínio
de agricultores em conflitos de terra em Monte Santo; a instalação do Estaleiro
naval do Paraguaçu, um empreendimento dentro de um território de comunidades
tradicionais, mesmo com crimes ambientais cometidos pelos governos estadual e
federal; e a conivência da justiça com o funcionamento de fábricas clandestinas
de fogos, em Santo Antônio de Jesus, que já ocasionaram acidentes com até 64
mortes numa única explosão.
Ainda,
sobre violação de direitos, foi apresentado o caso de invasão, agressão física e
intolerância religiosa, cometidos pela Polícia Militar da Bahia no Quilombo
Projeto de Assentamento D. Helder, em Ilheús, como relatou a líder e yalorixá
Bernardete Souza, que falou dos absurdos cometidos: “O Estado que deveria
garantir os direitos das comunidades tradicionais, pelo contrário, usa da força
para fazer represarias contra os movimentos sociais, a partir desse sistema montado,
onde os que ‘tem mais’, valem mais e os ‘que tem menos’, para o Estado não
valem nada”.
A realização
do Tribunal Popular do Judiciário da Bahia traz a expectativa de buscar o controle
social do Judiciário, como afirma Paulo Demeter, representante da APP/BA: “Tínhamos
a dúvida se o povo superaria o medo de que o sistema judiciário é intocável,
impermeável à influência da população, diante disso, a presença da população
nesta etapa e nos encontros anteriores de formação, mostra que é uma demanda
real discutir o atual sistema judiciário baiano”.
Na
plenária final de encaminhamentos, as lideranças presentes resolveram elaborar
um dossiê com diversos casos relatados em várias regiões do estado que será apresentado
como denúncia em organismos nacional e internacional de Direitos Humanos. Também
será articulada esta experiência com outras iniciativas nacionais de controle
social do poder judiciário.
Caso do Quilombo Rio dos Macacos
Vários casos
de violação de direitos com a participação da justiça foram relatados, mas
durante todo o Tribunal Popular, as diversas lideranças reafirmaram o apoio à
permanência da Comunidade Quilombola Rio dos Macacos, em Simões Filho, região
metropolitana de Salvador, que sofre ameaça de despejo pela Marinha do Brasil,
a partir de 1º de agosto de 2012, quando poderá ser cumprida liminar de um juiz
federal, que de forma parcial determinou a remoção da comunidade do seu
território.
A comunidade
ocupa esse território há gerações, com quilombolas centenários que já nasceram
no quilombo, muito antes da chegada dos militares. O apoio da sociedade civil e
de movimentos sociais tem até contribuído para o adiamento da remoção, mas a
ameaça é constante sobre os quilombolas.
Vinicius Gonçalves (DRT/BA-3820)
Comunicador Popular
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