Aconteceu entre os dias 10 e 12 de setembro/14,
em Irecê-BA, o I Encontro Estadual de Agricultoras Experimentadoras da Articulação
Semiárido Brasileiro (ASA) com o tema: Celebrando
Conquistas na Trajetória da ASA no Semiárido Baiano.
Participaram cerca de 90 mulheres entre agricultoras e técnicas de
diversos territórios onde a ASA atua na perspectiva da convivência com o
semiárido.
O encontro teve como objetivo refletir sobre o papel da mulher na
sociedade, na convivência com o semiárido e na ASA. Outro objetivo foi colocar
as agricultoras em sintonia com o Encontro Nacional de Mulheres que acontecerá
em Campina Grande, na Paraíba, nos dias 23 e 24 /09, onde 20 agricultoras da
Bahia participarão.
Na tarde do primeiro dia houve uma apresentação do filme “A Vida de Margarida”, produzido pelo Polo
Sindical da Borborema, na Paraíba. O filme faz um relato do cotidiano de uma
família agricultora, onde a cultura patriarcal e machista ainda impera, onde a
desigualdade entre homens e mulheres é gritante, numa terra onde os homens
mandam e as mulheres obedecem.
Ao término do filme as participantes
recordaram fatos vivenciados em suas comunidades e experiências similares a da
protagonista do filme.
“Precisamos perder o medo e ir à
luta para defender nossos direitos - nós somos mulheres, somos gente!” Adriana
Silva Oliveira – Rede Organizacional em Defesa da Água (RODA).
As participantes
foram convidadas a refletir se a vida é igual para homens e mulheres, onde estão
e quais são as origens das desigualdades. Motivadas pelo debate sobre a divisão
sexual do trabalho dentro de uma unidade agrícola, as participantes construíram
um mapa da propriedade onde puderam relatar quais são seus espaços de atuação.
“Hoje
quebramos várias barreiras, mas ainda existe muita desigualdade entre homens e
mulheres. Vemos que existem transformações, mas ainda há muito a ser feito.
Devemos discutir gênero. Esse diálogo tem que ser feito com homens e mulheres,
eles têm que estar bem relacionados!” Tarcísia - Associação Regional de
Convivência Apropriada ao Semiárido (ARCAS).
Tais contribuições serviram para nortear a reflexão sobre a
importância e a valorização das mulheres no núcleo familiar, seu reconhecimento
e sua identidade, levando-as a perceber que a conquista de direitos faz parte
de um processo de auto-organização, persistência e lutas.
Divididas em cinco grupos de trabalho aprofundaram os temas: Manejo da Água
nos Quintais, Plantas Medicinais, Sementes e Diversificação Produtiva, Pequenos
Animais e Acesso aos Mercados.
Através das experiências apresentadas, as agricultoras identificaram
sua potencialidade e autonomia na geração da renda familiar. A valorização
dos arredores da casa como meio produtivo capaz de garantir a segurança
hídrica, produzir alimentos e gerar renda, contribuiu para que o trabalho
da mulher agricultora fosse visibilizado.
No final do dia aconteceu a Troca Solidária, um momento
em que as agricultoras apresentaram os frutos de seu trabalho e da sua dedicação
como: artesanatos, biscoitos, cocadas, receitas, sementes e mudas. Num clima
descontraído e alegre fizeram as trocas e tiveram a oportunidade de
comercializar seus produtos.
Para encerrar a noite as agricultoras se divertiram, dançando
e cantando ao som de Denise Reis (Morro do Chapéu-Ba).
Na manhã de sexta-feira elas voltaram a se reunir com a
proposta de identificar os desafios que ainda devem ser enfrentados e em
que a ASA poderá ajudar.
Nessa dinâmica as
agricultoras apresentaram seus anseios, falaram da importância de não se
calarem e não guardarem só para si as experiências produzidas no campo, em
casa e em suas organizações, mas compartilharem o que deu certo e quais os caminhos
percorridos para alcançarem êxito.
Destacaram a importância de cada uma ter a curiosidade
de buscar informações sobre o que está acontecendo em sua comunidade, tornando-se
cada vez mais participativas e autoras de seu próprio destino.
Foi colocada a preocupação com a educação escolar dos
filhos e filhas, que muitas vezes é distante da realidade do campo e o que
fazer para diminuir essa distância. Outra preocupação é a divisão sexual do
trabalho em casa, o desafio de dividir com igualdade as atividades
domésticas.
As reflexões sobre o reconhecimento e a valorização da
mulher no núcleo familiar e sobre os espaços que vêm conquistando no acesso
direto à renda fez com que percebessem a sua importância, porém reconhecem
que precisam de orientação técnica para o escoamento e comercialização da
sua produção.
Como proposta para a ASA ficou a necessidade de uma assistência
técnica continuada, onde tenham apoio e aprendam as práticas de economia
solidária, elaboração de projetos e
organização em associações e cooperativas a fim de melhorar a renda
familiar.
A convivência com o semiárido passa pela luta por
acesso à terra e à água e, sobretudo, pela conquista e efetivação de
direitos. Por essa razão não se pode pensar na construção de uma sociedade
justa, igualitária e plural sem considerar a igualdade de espaços e direitos
entre homens e mulheres.
“Pra mudar a
sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher”
(Zé Pinto).
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