O
território da Diocese de Ruy Barbosa recebeu, entre 24 e 26 de setembro, o Intercâmbio
de Experiências do Projeto Água para Viver: Uso Sustentável da
água no semiárido, desenvolvido pelas Cáritas Alemã e Brasileira, com apoio
da Mercedes Benz. A ação beneficia 120 famílias, que por meio do projeto estão
vivenciando princípios da agroecologia e convivência com semiárido.
O
primeiro momento foi marcado pela mística e apresentação dos representantes da
Mercedes Benz e das Cáritas Alemã, Diocesana de Chimoio (Moçambique),
Brasileira Regional Nordeste 3 e Diocesana de Ruy Barbosa. Em sua
saudação inicial, Dom André de Witte, bispo diocesano de Ruy Barbosa, destacou
o papel social e eclesial da igreja. “ É fundamental a participação na
construção de uma sociedade justa e igualitária, a serviço da vida. Fé e vida é
algo essencial para nós”, disse.
Em
seguida, foram apresentadas as ações da Cáritas Regional e Diocesana. Gabriel
Reis, assessor da Cáritas, destacou como iniciativas no semiárido a captação e
armazenamento da água de chuva, enfrentamento a estiagem, produção, consumo e
comercialização de alimentos e os bancos de sementes. “Essas ações vêm
fortalecendo e garantindo que essas famílias permaneçam em seus territórios e
gerem renda, possibilitando que os filhos possam estudar e não precisarem
migrar", pontuou Reis.
Moisés
José, da Cáritas Diocesana de Chimoio, partilhou a experiência do projeto "Segurança
alimentar, prevenção a seca e desenvolvimento sustentável na província de
Manica", que objetiva garantir água potável para 700 famílias. "
A pouca água disponível encontra-se nos leitos dos rios periódicos em que as
famílias abrem pequenas covas para buscar o precioso liquido partilhando as mesmas
fontes com os animais, explicou.
Para
Jutta Herzenstiel, da Caritas Alemã, as ações no Brasil e em Moçambique são
sinais de esperança. "Muitas pessoas, de diversos lugares e diveras
culturas, tem a ideia de ajudar outras pessoas", afirma.
A
programação do Intercâmbio segue até o sábado (29) passando pelas cidades de
Uauá e Juazeiro, onde os participantes conhecerão cisternas,
minifabricas, cooperativa e as ações do Instituto Regional da Pequena
Agropecuária Apropriada (IRPAA). Conheça
algumas experiências que integraram a programação do intercâmbio na diocese de
Ruy Barbosa:
RUY
BARBOSA
Escola
Família Agrícola Mãe Jovina - Em
1993 tornava-se realidade a Escola Família Agrícola Mãe Jovina, uma iniciativa
que fortalece a adequação da escola à vida do campo. Através da pedagogia da
alternância, os estudantes passam parte do tempo escolar aprendendo a trabalhar
com a terra, plantas, animais e a conviver e interagir com a realidade
agrícola, e outra parte em sua comunidade, aplicando o conhecimento a sua
realidade.
A
primeira turma da escola contou com 46 estudantes, sendo apenas 4 deles
mulheres. Vinte e cinco anos após sua criação, a escola é marcada pela diversidade
e atende 5 territórios, 14 municípios, 176 estudantes e cerca de 150 famílias.
É oferecido o ensino médio e os estudantes concluem sua trajetória escolar com
a formação técnica em agropecuária.
A
Escola Agrícola estimula que seus estudantes estejam em espaços de incidência
política, a reflexão crítica e o debate de temas importantes, como gênero. Uma
das maiores contribuições dessa iniciativa é o fortalecimento da convivência
com o semiárido e de um novo horizonte para a juventude rural, anteriormente
marcada pelo alto índice de migração para os grandes centros urbanos.
Dentre
as atividades de destaque estão as experiências voltadas para a agricultura
familiar, biodigestores e recuperação de áreas degradadas e improdutivas, através das agro florestas. Através do estágio, esse conhecimento é partilhado
com as famílias do projeto “Água para viver: O Uso Sustentável da água no
semiárido”.
BAIXA
GRANDE
Associação
de Mulheres do KM 4 - Valmirete
da Silva é uma das protagonistas da Associação de Mulheres do KM 4. Confira seu
relato:
“Eu
nasci no Povoado Massaranduba, uma comunidade na zona rural do município de
Baixa Grande. A principal fonte de renda das pessoas da minha comunidade é a
agricultura e o principal desafio é a falta de água. Moro no Nordeste, no
Semiárido, onde tem mais seca do que chuva e ainda existe dificuldade em
guardar a água para os tempos de estiagem. A reserva de água que tem na
comunidade veio do projeto de convivência com semiárido onde quase todas as
famílias foram contempladas com uma cisterna de 16 mil litros para a o consumo,
mas nem todos tem acesso aos tanques para produção e sem água não há
produção.
A
associação surgiu com um movimento do dia internacional da mulher. Muitas
mulheres estavam com a autoestima baixa, inclusive eu era uma delas, então se
formou um grupo e sentimos a necessidade de gerar renda para nos tornarmos
mulheres mais empoderadas.
Através
do projeto aconteceram capacitações e o grupo se identificou com a produção de
polpas, pois havia muito desperdício de frutas na comunidade. No princípio, não
tinha nenhum fundo de reserva nem dinheiro para poder comprar os frutos para
produção das polpas e várias mulheres que tinham acerola, cajá, manga, goiaba,
maracujá e outras frutas colhiam e doavam para o grupo. Hoje, a gente já não
faz mais esse processo de receber doação, fazemos questão de comprar das
mulheres que doaram as frutas no início e dos produtores da região.
Com
a instalação das cisternas de produção, pequenos produtores - mesmo não tendo
uma roça de maracujá ou acerola - têm cinco, seis pés que são irrigados com
essa água e ajudam no sustento. Tenho exemplo de muitas famílias que melhoraram
muito de vida depois do projeto por ter onde trazer os seus produtos. Assim que
colhem uma ou duas caixas de frutas já telefonam pra gente pegar. Isso gera
renda para família.”
Associação
Comunitária dos Produtores Rurais de Santa Cecília - Na década de 1990, Santa Cecília foi uma
das primeiras comunidades a ser contemplada por ações de convivência com o
Semiárido, através da construção de cisternas de consumo de 16 mil litros.
Sem
apoio governamental na época, o financiamento para implementação das
tecnologias ocorriam através de recurso de entidades e organizações de outros
países e entidades locais como a Paróquia e a Diocese, que captavam
recurso e aplicavam em projetos sociais. Por esses recursos serem
insuficientes para atender as demandas de toda comunidade e para incentivar a
organização coletiva e a solidariedade, eram aplicados na modalidade de fundo
rotativo. Com isso as famílias assumiam o compromisso de devolver o recurso que
foi aplicado para que a tecnologia fosse multiplicada e outras famílias
pudessem ser contempladas.
Nos
anos 2000, com o apoio governamental para implementação de tecnologias de
captação de água de chuva, o recurso do fundo rotativo passou a apoiar outras
ações dentro da comunidade, como o beneficiamento de polpa de frutas, construção
de banheiros e reforma de casas.
A
iniciativa de fundo rotativo implementada e mantida até os dias atuais tem
proporcionado que as famílias e a comunidade tenham uma vida mais digna,
através da inclusão sócio produtiva, geração de renda e elevação da
autoestima, através da valorização do seu trabalho e da organização
comunitária.
Essa
experiência, mostra como as pequenas iniciativas podem contribui com a inclusão
social e econômica das comunidades no semiárido.
VÁRZEA
DO POÇO
Reflorestamento - Localizado a cerca de 6km do centro de
Várzea do Poço (BA), o sitio Axixá se tornou uma referência a
partir da iniciativa de reflorestamento no Semiárido.
No
pequeno sítio herdado de seus pais, o senhor Di, como é chamado, se propôs a
fazer uma experiência até então inédita na região. Cansado de ver tantas cenas
de desmatamento e uso de agrotóxico nas pastagens para criação de bovinos, se
propôs a fazer algo diferente e necessário. Após conseguir uma cisterna de
produção, construiu um viveiro de mudas com plantas frutíferas e nativas
e começou a reflorestar a propriedade.
Nela
, ele produz alimentos no sistema agroflorestal, aliando a produção de
alimentos com plantas nativas, aliando a conservação do solo e
preservação da fauna e flora.
Educação
Contextualizada - A
aula pode ser entre quatro paredes, debaixo de um pé de umbu, em uma praça ou
em qualquer outro lugar que favoreça a contextualização da realidade local nas
práticas de ensino. Essa é a essência da educação contextualizada.
O
município de Várzea do Poço deu seus primeiros passos com a experiência de
educação contextualizada no semiárido através do projeto “A educação que a
gente quer do jeito que a gente é”, realizado com o apoio da Cáritas
Diocesana de Ruy Barbosa. Hoje Várzea do Poço é referência na questão,
auxiliando outras cidades com a implementação dessa prática educativa, como a
comunidade de Queimada Grande, em Banzaê (Ba).
MACAJUBA
Agrária
(Paó) - A
comunidade Agraria (Paó) é composta por cerca de 120 famílias. Dona
Clemilda é uma das agricultoras que experimentam a transformação da
comunidade, com a chegada de iniciativas de Convivência com o Semiárido.
Hoje a comunidade conta com cisternas de consumo, produção e uma casa de
sementes, que contribuem com o fortalecimento da segurança e
soberania alimentar.“São seis anos produzindo direto, mesmo com a estiagem”,
explica Clemilda, que por meio do projeto dá seus primeiros passos na
área da apicultura e criação de galinhas.
A apicultura é um dos destaques na produção do município. A Associação dos Criadores de Abelha do Município de Macajuba produz cerca de cinco toneladas por colheita e três colheitas anuais. Além do impacto na renda e na melhoria da saúde das pessoas que desenvolvem a atividade e passam a consumir os produtos, a apicultura também fortalece a preservação da vegetação, devido ao trabalho de polinização das plantas, feito pelas abelhas, e o plantio de mudas feito pelos apicultores.
A apicultura é um dos destaques na produção do município. A Associação dos Criadores de Abelha do Município de Macajuba produz cerca de cinco toneladas por colheita e três colheitas anuais. Além do impacto na renda e na melhoria da saúde das pessoas que desenvolvem a atividade e passam a consumir os produtos, a apicultura também fortalece a preservação da vegetação, devido ao trabalho de polinização das plantas, feito pelas abelhas, e o plantio de mudas feito pelos apicultores.